Raia seca: linha de fronteira não coincidente com uma linha de água (Rio ou Ribeiro).
Foi este o mote para 2024. Percorrer a raia no Nordeste transmontano, e Parque Natural de Montesinho, em grande parte Raia Seca.
O grupo de 2024:Vítor, Pedrinho, eu, Vulcão, Jonny Jumper, Bruno, Fil, Huguinho e Chef S (da esquerda para a direita).
Dia 1 - Sexta-feira dia 7 de junho
Lago de Sanabria / Puebla de Sanabria - 45,5 km e 794 m de subida acumulada
Bagagens prontas, e pela fresca da manhã saímos de Guimarães rumo ao Lago de Sanabria. Como este ano levamos um farmacêutico houve material extra ... mas pelo que sei estas caixas voltaram como foram. Somos muito fortes!!!
Perto da hora do almoço já marchavam umas tapas e "cañas" no La Terraza, em San Martin de Castañeda.
Hugo da Dreamadventure, sempre pontual e eficiente, já estava à nossa espera com as nossas bicicletas no ponto de partida, onde a estrada acaba ... Peña El Concejo Vigo de Sanabria
Apesar de estarmos em junho, nos pontos mais altos do Parque Natural dos Lagos de Sanabria ainda havia resquícios de neve
Tudo a postos ... camisinha apropriada para a ocasião ... vamos a isso.
Vulcão em modo "enduro agressivo". Estava "on fire" ...
Fil, que raramente deixa créditos em mãos alheias, na primeira oportunidade vai ao tapete e enche-se de lama ... diz quem viu que foi uma bela acrobacia.
As paisagens eram brutais e a malta estava animada ...
O acumulado de subida deste primeiro dia foi quase na totalidade nos primeiros 8 km, até ao lago (barragem) de Vega del Conde.
Território inóspito ... o sentimento é que éramos nós e a natureza no estado puro.
Depois de uma descida um tanto técnica e trialeira ...
... passamos o Rio Tera, muito próximo da sua nascente ... ... e entramos no estradão que ronda os lagos de Vega de Tera (barragem), del Quadro, de los Grandones e del Payón.
Um percurso de beleza rara.
Havia ainda que subir mais um pouquinho para o ponto alto do dia (em todos os sentidos).
O lago de los Grandones ao fundo, e também ao fundo algo que nos acompanhou ao longo dos três dias desta aventura: nuvens negras e ameaça de tempestade, mas felizmente o levamos um Anjo da Guarda chamado Pedrinho que manteve ambas sempre à distância!
Vulcão já impaciente ... a descida nunca mais chega!!
O grupo da retaguarda a controlar ...Barragem de Vega de Tera parcialmente destruída. É um cenário que nos leva a um misto e encanto e desolação.
Ao fundo o Lago de Sanabria e o Pedrinho, um dos estreantes deste ano, a tirar as medidas à descida que se seguia ...
Era, de facto, o momento do dia, a vertiginosa e técnica descida para Moncabril, Lago de Sanabria.
Porém, a pedra molhada tornou a coisa substancialmente mais radical e até perigosa em alguns pontos.
Era o primeiro de três dias de aventura, a malta, e bem, resfriou os ânimos e meteu cautela na coisa. Ficou alguma sensação de desconsolo, porque ficou claro que seca será uma descida fabulosa!
Arrisco afirmar que houve quem fizesse 95% em cima dela, a maioria 85% e muito poucos ficaram nos 75%, mas uma coisa é certa ...
... em Moncabril a felicidade estava estampada no rosto de todos.Até Puebla de Sanabria seguiu-se um trilho muito rápido e fluido nas margens do Rio Tera com cerca de 20 km, o Camiño Tradicional Puebla-El Puente.
Chegamos a Puebla de Sanabria ao final da tarde, muito a tempo de umas boas "cañas" para o balanço do dia
Ambiente descontraído.Informar a família do estado físico de psicológico é sempre importante ...
O jantar tranquilo, comida sofrível mas acompanhada de bom vinho e conversas animadas.
Dia 2 - Sábado dia 8 de junho
Puebla de Sanabria / Gimonde - 95,3 km e 2325 m de subida acumulada
Hotel Los Perales, enfim, barato, deu para dormir e tivemos direito a uma verdadeira cerimónia de pequeno almoço ... coisas próprias destas aventuras.
O azimute à saída de Puebla de Sanabria foi Sudoeste e chegamos à fronteira entre Portugal de Espanha algures entre Portela e Rio de Onor.Percurso magnífico, em paisagens fabulosas onde fomos prendados com manadas de veados, uma delas atravessou à mesmo nossa frente e ficamos todos em êxtase.
Na parte da manhã desta dia havia programado uma orelha a sul de Rio de Onor, visto que o nosso anfitrião Pedrinho tinha reservado almoço na bonita aldeia raiana.
Alguém achou que ainda era cedo para o almoço, e decidimos fazer outra orelha à zona de observação de veados. Nada de veados, só um trilho macaco ...
No restaurante da D. Maria, uma simpática Senhora meia portuguesa meia espanhola, como quase todos nesta localidade, chamado O Trilho de Onor, esperava-nos uma deliciosa e farta refeição ...
Pedrinho e a D. Maria esqueceram-se que ainda havia mais 70 km para fazer depois de almoço.
Tentamos resistir e tornar a refeição o mais ligeira possível ... mas não o foi, de todo.
O Homem tem dúzias de óculos destes. Destacam-se pela cor peculiar ... e a D. Maria entregou-lhe uns que lá ficaram esquecidos na última visita. Vá-se lá saber porque que é que ficaram esquecidos ?!Depois de almoço, enquanto as bicicletas carregavam um pouco ...
... a malta aproveitou para uma bela sesta.
Até os trabalhos de manutenção eram feitos em modo sesta ...
... a malta aproveitou para uma bela sesta.
Até os trabalhos de manutenção eram feitos em modo sesta ...
Os mais fortes e resistentes, aproveitaram para uma visita guiada à aldeia na companhia do anfitrião.
É de facto uma aldeia que vale a pena visitar. Muito bonita e bem preservada.
Mas quando havia uma qualquer paragem a vontade de deitar era contagiosa.
Quase na linha raiana, seguimos inicialmente para Noroeste a depois para Sul, rumo a Gimonde.Jonny Jumper a preparar a descida que aí vinha.
Durante a reparação de um problema técnico no grupo da retaguarda, mais um momento de sesta, agora sobre o feno verde.
Enquanto o Chef S e seus ajudantes preparavam a janta, alguns arriscaram um mergulho nas águas geladas do Rio Onor, a escassos metros de este desaguar no Rio Sabor.
Por razões de proteção de dados e da boa imagem dos intervenientes, não foram recolhidas fotografias durante os banhos ...
Aqui, em Gimonde, dormimos como reis ... grandes quartos com camas confortáveis. Não pode ser sempre a sofrer!
Rabo de boi, by Chef S.
Aqui não há muito a dizer, ou quase nada, senão DELICIOSO.
Obrigado Sérgio pelo trabalho e dedicação na preparação deste magnífico repasto que nos proporcionaste.
Boa comida, bons vinhos e a melhor companhia.
Terminou em beleza este 2.º dia do XPD 2024.
Dia 3 - domingo dia 9 de junho
Gimonde / Erosa - 109,8 km e 2465 m de subida acumulada
O Grande Dia, mais quilómetros e mais acumulado de subida num território absolutamente inóspito, onde os pontos de paragem para apoio e abastecimento tiveram de ser criteriosamente escolhidos.
Alguns contratempos à saída e Gimonde, mas foram rapidamente ultrapassados ...
As travessias a vau foram uma constante neste dia, e nesta aventura.Dia de eleições europeias, e exercemos o nosso dever na aldeia de França.
Pequeno problema técnico, rapidamente solucionado pelo nosso Chef S, que além de excelente cozinheiro é um mecânico de primeira.
Outra feliz constante desta aventura, a ausência de problemas técnicos graves, excluído a vontade própria da eletrónica da bicicleta do Vítor, mas o problema não era da Trek ...
Reabastecimento do dia, no Café MOntesinho na aldeia de Montesinho no coração do Parque Natural de Montesinho. A dona do Café, que lamentavelmente não me recordo do nome, é uma Joia, de uma simpatia contagiante.
Pedrinho arranjou um namorada nova, e a possibilidade de divórcio esteve à vista ...
Houve tempo para tudo, até para fazer companhia aos mortos.
Simetrias ...Banquinho quente de granito, revelou-se uma confortável cama para uma soneca.
Jonny Jumper sempre a atualizar informação do seu estado físico e psicológico à família.
Bar da Junta de Freguesia de Montesinho, gentilmente aberto pelo Sr. Presidente da Junta para carregamos as bicicletas.
Este foi o maior erro estratégico desta XPD. Como o carregamento foi feito ao km 40, portanto com mais 70 km e cerca de 1500 m de acumulado para fazer, havíamos decidido que teria de ser completo. Porém, como não houve preocupação em poupar baterias até lá, o tempo de carregamento foi excessivo, cerca de 3 horas.
A subida, logo à saída da Aldeia de Montesinho, foi brutal. Um ziguezague paralelo a uma conduta de água bastante trialiero e técnico.
Chegados ao planalto raiano, a cerca de 1300 m de altitude, rondamos as barragens de Serra Serrada e Veiguinhas.
Mais uma vez, éramos nós e a natureza.
Durante os 327 km desta aventura, contam-se pelos dedos de uma mão os caminhantes ou ciclistas de que se cruzaram conosco.
Lá no alto, na linha de fronteira, esperava-nos uma descida rápida e divertida.
Vem descida, Vulcão chega-se à frente ...
As nuvens escuras sempre perto, sempre a ameaçar, mas felizmente nunca levamos com chuva forte, mas os relatos que recebíamos de casa eram de dias de tempestade.
No final de uma grande descida, um lugar único ... a Ponte das Vinhas sobre o Rio Tuela. Um daqueles sítios idílicos somente acessível a pé ou de bicicleta de montanha.
A subida da Ponte das Vinhas para a aldeia de Moimenta foi, para mim, o maior desafio desta edição. Uma trialeira, com pedras molhadas mas com alguma tração, que cheguei ao topo com o coração na boca!
Da aldeia de Moimenta rumamos a Norte em direção ao arco íris ....
... e à Fraga dos Três Reinos, um marco geodésico de grande importância simbólica, onde convergiam os limites dos reinos de Portugal, Castilha e León e Galiza.
Paisagem fantástica ornamentada com um arco íris de 180º
Três estarolas na Fonte dos Três Reinos.
Já lusco fusco, despois de 110 km, 12 horas e 40 minutos em cima das bicicletas, chegamos a La Gudiña e depois Erosa.
Não havia alternativa nem forças para nos deslocarmos ao tasco para jantar, e lá fomos em duas "cargas" na furgoneta.
Talvez fosse da fome, mas comemos uma tapas muito boas no "O Fiadeiro", em La Godiña.
Dia 4 - Segunda-feira dia 10 de junho
Erosa / Chaves - 76,3 km e 2108 m de subida acumulada.
A derradeira etapa, supostamente mais rolante e relaxada, mas a orografia não era favorável, havia dois profundos vales para atravessar, mais uma vez em terra de ninguém ...
E por algum azar, na abordagem ao primeiro vale tivemos que improvisar uma ligação ...
A observar o território envolvente.... mas com as extraordinárias capacidades de navegação do Timoneiro, rapidamente se resolveu a questão e retomamos a nossa rota.
Mais uma, das muitas, travessias a vau.
Havia mesmo que ponderasse voltar ... mas para a frente é o caminho!
Não é perceptível, mas há meninos que tiram as botas para passar linhas de água. É um espetáculo extraordinário de ser visto!
Passagem na Ponte sobre o Rio Pentes junto às antigas Minas de Braxa.
No percurso deste dia ficamos a conhecer diversas aldeias alternadamente entre Portugal e Espanha, hoje praticamente desabitadas, outrora ligadas ao contrabando.
Na aldeia de S. Vicente paramos num tasco onde fomos muito bem servidos por gente de extrema simpatia.
Para o parque de merendas ficou somente o banho, e esse foi em grande ...
Era tempo de carregar o material e regressar a casa.
Como nestas coisas há sempre um contratempo, e na ausência de avarias graves nas bicicletas, esperava-nos uma surpresa final ... um dos carros teimou em ficar no parque de estacionamento do Hotel Casino de Chaves o que obrigou a uma espera adicional pela Assistência em Viagem.
Foram mais de 300 km em 4 dias, quase 8000 m de subida acumulada.
Muitas horas a pedalar, algum sofrimento, paisagens deslumbrantes num Portugal, e Espanha, profundos, talvez até esquecidos, e acima de tudo muita camaradagem e amizade.
Obrigado a todos por, mais uma vez, confiarem em mim e por o imenso prazer que me dá pedalar convosco.
Um especial obrigado ao Pedrinho pela recepção em Rio de Onor e logística de carregamento em Montesinho e ao Hugo Leite da Dreamadventure pela dedicação e paciência para nos aturar e acompanhar.
O agradecimento, também ele muito especial, ao Chef S segue acompanhado de um pedido de desculpa pela precipitação e opção errada tomadas à saída da aldeia de Moimenta.